Metro de Lisboa. Chego, no meio das pessoas que passam, apressadas, de olhos fixos no chão, no vazio. Olho à minha volta. Há pessoas que conversam. Outras, sozinhas, apenas esperam. À minha frente, alguém, de costas para mim, vai limpando a cara. Há lágrimas que teimam em aparecer sem escolher o local. Sozinha, enquanto espera (ou desespera), vai limpando as lágrimas que teimam em cair. O metro chega. Entramos. Silêncio. Pessoas que quase não se olham. Não se vêem. Não escutam o pedido de um abraço dos corações que, muitas vezes, têm ao seu lado. A viagem chega ao fim. Ela aproxima-se de mim para sair. Saímos as duas e, enquanto saímos, eu estendo-lhe um post-it. Ela hesita, durante um segundo, e aceita-o. "O teu sorriso é a melhor parte do dia de alguém", lê. Ela solta um ligeiro sorriso. Eu sigo o meu caminho, de coração abraçado. Às vezes, um ligeiro sorriso de um coração que dói, salva o nosso dia.
Tatuar sorrisos no dia de alguém, na vida de alguém, no coração de alguém. Onde? Por onde passares. Quando? Sempre. Porquê? Porque (o amor) cura.
Para quem já viu pedacinhos do Tatuar Sorrisos por aqui e ainda não percebeu bem o que é isto:
Tatuar Sorrisos nasceu por eu acreditar que o amor muda o mundo. Por eu acreditar que um pedacinho de amor, mesmo o mais pequenino (e, tantas vezes, especialmente o mais pequenino), muda o mundo. Nasceu, também, pela minha vontade de viver isto e pelo meu sonho de viver disto. Todos os dias. E de o mostrar às pessoas, fazendo-as senti-lo e vivê-lo também. Mudando o mundo de alguém. Tatuando um sorriso no dia de alguém, na vida de alguém, no coração de alguém.
Comecei, um dia, a deixar pedacinhos de amor por onde ia passando, escritos em post-its. E hoje, anos depois, este bloco de post-its escritos com o coração, ao qual dei o nome de Tatuar Sorrisos, já faz parte dos meus dias e dos lugares (e pessoas) por onde passo. Já faz parte do que sou. Loucura? Talvez. Nunca achei muita piada à normalidade.
Tatuar sorrisos no dia de alguém, na vida de alguém, no coração de alguém. Onde? Por onde passares. Quando? Sempre. Porquê? Porque (o amor) cura.
o teu abraço é o melhor lugar do mundo para alguém. o teu sorriso abraça corações. os teus olhos sorriem e fazem sorrir. as tuas mãos foram feitas para abraçar outras mãos. o (teu) amor muda o mundo. o teu coração é a casa de alguém. o teu abraço cura. as tuas mãos são o abrigo de alguém. o teu coração vê melhor do que os teus olhos. o teu abraço faz corações sorrir. o teu sorriso é a melhor parte do dia de alguém. és tanto (mais do que sabes).
Faço a minha viagem de autocarro, o lugar ao meu lado está vazio. Até agora. Ela entra no autocarro, apressada. Provavelmente uns anos mais velha do que eu, mas não muitos. Olho-lhe para os olhos verdes, mas vermelhos das lágrimas que já caíram, das que ainda estão à vista e das que ainda estão por cair, a qualquer momento. Procura um lugar para se sentar, apressada. Quando, provavelmente, a única coisa que procura é um lugar que a abrace. Que a abrigue. Onde não tenha que estar no meio destas pessoas todas. Onde não tenha outros olhos a olhar-lhe para os olhos verdes, mas vermelhos das lágrimas que já caíram, das que ainda estão à vista e das que ainda estão por cair, a qualquer momento. Onde não tenha que procurar um lugar para se sentar, apressada. Senta-se ao meu lado. Respira fundo. Respira tão forte. Eu pego no meu bloco de post-it’s e na minha caneta. Está quase a chegar a minha paragem. Os lugares do outro lado do corredor ficam vazios e ela levanta-se e vai para lá, prefere ficar sozinha. Senta-se e baixa a cabeça, apoia-a nas mãos, no colo. Continua a respirar tão forte. Chega a minha paragem. Levanto-me, fico ao lado dela por instantes. Hesito, mas prefiro arriscar. Toco-lhe no braço, ela olha-me. Sorrio-lhe e dou-lhe o post-it. Ela recebe-o. Não dizemos nada. Eu vou até à porta. "Não tenhas medo, a vida só quer que tu sejas feliz", diz-lhe o post-it, com um sorriso e com letra apressada. No instante em que saio, olho para ela. Ela já está a olhar-me. Sorrio-lhe, ela sorri-me. Não dizemos nada. Nem precisamos dizer. Eu saio. Um pedacinho do meu coração está naquele post-it. O resto vem comigo, mais cheio.