O melhor (e único) presente da vida: no meio de tudo e no final de tudo, onde o nosso coração repousa, serena, (de)mora. Onde o nosso coração se ilumina, descobre as coisas mais bonitas e encontra tudo o que importa. Onde o nosso coração sorri e (se) abraça. De verdade. Para sempre.
O melhor (e único) presente da vida: o amor, em forma de gente. A nossa. De todos os dias, de toda a vida. Da vida toda.
Há sempre alguém que te descobre por dentro. Que te descobre por detrás das barreiras que vais construindo. Que te descobre por detrás de tudo o que o mundo vê em ti e, principalmente, por detrás do que ninguém vê: por detrás dos teus medos, dos teus fantasmas, das tuas dores, das tuas cicatrizes.
Há sempre alguém que te vê. Que te vê de verdade.
Há sempre alguém que te abre a porta e se convida a entrar. Mesmo sem saberes. Mesmo sem quereres. Mesmo que fujas. Há sempre alguém que te ultrapassa e te encontra por dentro. Que te percorre a alma e encontra o que és.
Há sempre alguém que te vê. Que te vê de verdade.
Há sempre alguém que te sorri como quem te abraça, que te dá a mão como quem te resgata, que te abraça como quem te salva e que te olha, por dentro, e te vê. Que te vê de verdade. Sabes?
Sobre pessoas que nos mostram o lado mais bonito da vida. Que nos mostram até o lado mais bonito de nós. Pessoas que nos mostram o lado mais bonito de tudo. E que, só por isso, nos fazem acreditar que ainda vale a pena. Que tudo isto vale a pena. Sobre pessoas que nos fazem acreditar.
Sobre pessoas que são luz na escuridão. Luz que nos ilumina. E que nos faz brilhar.
Sobre pessoas que são sol nos dias cinzentos.
Sobre pessoas que são paz na tempestade.
Sobre pessoas que são abrigo sempre que os medos nos invadem.
Sobre pessoas que são balão de oxigénio que nos devolve a respiração.
Sobre pessoas que são asas que nos fazem voar.
Sobre pessoas que são pára-quedas que nos ajuda a pousar.
Sobre pessoas que são colo que não nos deixa cair.
Sobre pessoas que são mãos que nos ajudam a levantar. E mãos que se dão às nossas para sempre. Para nos acompanhar.
Sobre pessoas que são abraço de alma. Abraço de coração. Pessoas que são lugar seguro para onde podemos sempre correr. Para onde podemos sempre voltar.
Sobre pessoas que são olhos que nos vêem de verdade. Por dentro do que somos. Pessoas que nos sabem e que nos sentem.
Sobre pessoas que nos ouvem e que nos lêem as palavras, os gestos e até os silêncios.
Sobre pessoas que são sorriso em forma de abraço. Que conseguem fazer-nos sorrir sempre mais uma e outra vez.
Sobre pessoas que são beijinhos que nos curam as dores. Que curam tudo. Pessoas que são ternura.
Sobre pessoas que são magia.
Sobre pessoas que são milagres a acontecer.
Sobre pessoas que são presença sempre. Que, mesmo longe, são sempre perto. Pessoas que nos mostram que o coração não tem distância.
Sobre pessoas que se fazem morada. Que nos fazem morada.
Sobre pessoas que nos são. Pessoas a quem nós somos. Tanto e sempre.
Sobre pessoas que nos tatuam o coração para sempre. Com o que nos dão. Com o que são.
Sobre pessoas que são tanto.
Sobre pessoas em forma de amor.
*
Que saibamos agradecê-las e amá-las. Muito. Todos os dias.
E que saibamos sê-las. Muito. Todos os dias também.
Elas. Foi assim a vida toda, será assim a vida toda: elas. Elas, que já me esperavam quando eu nasci. Não conheci a vida antes delas. E nunca vou saber da vida sem elas. Olho para elas e sei: por mais voltas que o mundo dê e por mais pessoas que nos apareçam no caminho, no final a verdade é sempre esta: somos sempre umas das outras. E umas para as outras. Elas. São elas, quem eu sou.
Nós não nos esquecemos, avó. Continuamos aqui, do lado de cá, sem nunca soltar a nossa ponta do laço forte que une os nossos corações. Todos. Nós não nos esquecemos, avó. Estamos bem aqui, do lado de cá da porta dessa casa onde cuidam de si. Cuidam de si, não cuidam?
Nós não nos esquecemos, avó. A avó não sabe, mas tiveram de fechar-nos a porta, só por agora, na tentativa urgente e desesperada de que aí dentro continue a ser um lugar seguro. A avó também não sabe, mas do lado de cá agora moram o perigo e o medo. As pessoas já não se abraçam, avó. Já não há beijinhos sem aviso, as mãos já não se apertam, os sorrisos estão escondidos. Anda um bicho invisível, maior do que nós, por todo o lado. Avó, ele descobriu, antes das pessoas, que a melhor forma de contagiar é através do amor. E agora escondeu-se em todos esses gestos de amor, que antes nos salvavam sem nós sabermos, e privou-nos deles. Avó: é a única coisa que nos salva, não é?
Mas nós não nos esquecemos, avó. A avó não sabe, mas nós continuamos aqui. Do lado de cá, sem nunca soltar a nossa ponta do laço forte que une os nossos corações. Todos. Nós não nos esquecemos, avó. Continuamos aqui, do lado de cá, nesta espera urgente e angustiante, que nos aperta o coração. Estamos bem aqui, do lado de cá da porta dessa casa onde cuidam de si. Cuidam de si, não cuidam?
Mas é só por agora, avó. Um dia o bicho desiste e vai embora. Um dia voltam a abrir-nos a porta, sem o perigo, sem o medo. Um dia voltamos a entrar para apertar as saudades e a urgência que agora nos apertam a nós. E um dia talvez as pessoas descubram que a melhor forma de contagiar é através do amor. E que todos esses gestos de amor sempre nos salvaram sem nós sabermos. Avó: é a única coisa que nos salva, não é?
Somos casas. Construídas e cimentadas pelas nossas histórias. As que vivemos. As que ficam. E as que, mesmo não ficando, ficam marcadas também. Somos casas. Não há casas iguais. Cada casa constrói-se quase sem querer e cimenta-se com o que se vai aprendendo a querer. A escolher. Com o que fica.
Sou casa. Construída pelas minhas histórias. As que vivo. As que ficam. E as que, mesmo não ficando, ficam marcadas também. Tenho marcas que ficam para sempre. Não há volta a dar. Sou casa. Morada pelas minhas pessoas. As minhas. As de quem eu sou. Quase podia dizer que, para além de casa morada, sou casa também construída por elas. E digo: sou. Construíram-me, também. Não seria eu, não sou eu, sem elas. Há "pessoas-eu" para sempre. Não há volta a dar. Sou casa. Cimentada pelo amor. O amor que abraça, que entrelaça mãos, que olha mais fundo, que sorri com o coração. Cada casa constrói-se quase sem querer e cimenta-se com o que se vai aprendendo a querer. A escolher. Com o que fica. Não conheço nada que fique mais e que eu possa escolher e querer mais, do que o amor. Só o amor cimenta para sempre. Não há volta a dar.
Somos casas. Há quem chega, de mansinho, pé ante pé, e acaba por entrar. Há quem entra e não fica. E há quem entra e fica. Na esperança de morar.
Sou casa. A ti, que chegas, de mansinho, pé ante pé, e acabas por entrar, tens de saber: Sou casa. Construída pelas minhas histórias. Morada pelas minhas pessoas. Cimentada pelo amor. Não sou casa vazia, sozinha. Eu não sou só eu. Morar-me é abraçar isto. Abraçar o que sou, com tudo o que sou. Não há volta a dar.