Abraçar outras palavras | Abraço, da Inês
"Haverá sempre um espaço invisível entre nós. Sim. Não fosse o ar o elemento de ligação entre o visível e o invisível, não é?
À luz da ciência nunca conseguimos vencer essa força que nos repele. E as palavras...
As malditas palavras que me perfuram os tímpanos e me aquecem o peito?
Tomara eu que a palavra não tivesse tanto valor e significado. É que para mim ainda tem. Não gosto de atirar palavras ao vento sem sentido. E há palavras que rasgam o peito e nos deixam vulneráveis.
Proponho pena máxima para quem as disser em vão. Não fui eu. Não foste tu. Não foi em vão. Eu sei. Mas o meu "Eu" é desajeitado ao invadir o palco e a gerir emoções sabes? E eu sinto-me como uma menina que enfrenta uma resistência tremenda para se endireitar uma última vez…
Não devia...
É nesse diagrama singular de ligações a pensamentos e sonhos que é impossível ficar longe da loucura.
Ligados por uma ponte de fogo
Que vibra subtilmente
Nos avanços e recuos
É só no teu abraço que me perco
O escudo de folhas que o vento criou
Em torno de um corpo que vê o rastilho de pólvora
Dissipa-se como que por magia
Entre sussurros que não vejo
E olhares que não oiço
Os lábios não escrevem
E a luz divide os corpos
Com os dedos que gritam
Num místico desassossego
E o meu toque aflito
Como se fosse chuva
Desliza pela tua pele nua
Enamora-se e dança
Com a água que tens na boca
Onde as línguas são confidentes
De um amor que não hesita
Em ir mais fundo e mais alto
Entrelaçados com o vento
Onde o tempo abranda
E acelera
E depois abranda de novo
na nudez coberta de pele
E todos os dias te abraça
E ama como a primeira vez
Mas não te rouba o espaço
Tão apreciado
Porque existirá sempre
Um espaço vazio
Sem proteção nenhuma
Entre nós..."
Palavras da Inês, para este "abraçar outras palavras". A Inês é coração. É palavras que saem dele e que o tocam a ele, ao de quem lê. A Inês é escrita sentida, íntima, arrebatadora. Percorre-nos os sentidos e toca-nos directamente no coração. A Inês sente e faz sentir. Como quem, por vezes, escreve o que nos (me) vai no coração e que não foi traduzido em palavras. É isso: a Inês sente e faz sentir. E nem sei se tem essa noção. Se não sabia, agora já sabe. Obrigada, Inês. Por isto tudo e por teres aceite o convite. ❤