Há olhos que, depois de nos olharem, nos ficam tatuados na alma. Como se nos inundassem, como se nos roubassem para sempre.
Há sorrisos que, depois de nos sorrirem, nos ficam tatuados no coração. Como se nos sentissem, como se nos gostassem para sempre.
Há mãos que, depois de nos tocarem, nos ficam tatuadas na pele. Como se nos ancorassem, como se lhes pertencêssemos para sempre.
Há abraços que, depois de nos abraçarem, nos ficam tatuados em tudo o que somos. Como se nos como se nos envolvessem, como se nos morassem para sempre.
Há coisas que são para sempre, mesmo depois de serem. Não me digam que para sempre não existe. Ou digam, tanto faz. Eu não acredito.
Chego, no meio das pessoas que passam, apressadas, na correria do dia, da vida. Do coração. Olho à minha volta. Há pessoas que conversam. Outras, sozinhas, apenas esperam.
À minha frente, alguém, de costas para mim, vai limpando o rosto. Há lágrimas que teimam em aparecer sem escolher quando nem onde. Ela, sozinha, enquanto espera (ou desespera), vai limpando as lágrimas que teimam em cair.
O metro chega. Entramos as duas. Eu fico junto à porta, ela procura um lugar mais isolado. Talvez só precise de um abrigo. Há silêncio. Pessoas que quase não se olham. Não se vêem. Não escutam o pedido de um abraço dos corações que, muitas vezes, têm ao seu lado. Precisamos tanto de reparar, não precisamos?
A viagem chega ao fim. Ela aproxima-se de mim para sair. Saímos as duas e, enquanto saímos, eu estendo-lhe um post-it. Ela hesita, durante instantes, e aceita-o.
"O teu sorriso é a melhor parte do dia de alguém", lê. Ela, de olhos brilhantes, solta um ligeiro sorriso. Eu sorrio-lhe de volta e sigo o meu caminho, de coração abraçado.
Às vezes, um ligeiro sorriso de um coração que dói, salva o nosso dia também.
É isto: a vida torna-se bonita pelo amor que se vai deixando pelo caminho. E encontrando também.
Pode até nem parecer nada. Mas, às vezes, pode ser tanto. Pode ser tudo. Para alguém. E para nós também.