Metro de Lisboa. Sento-me e, enquanto espero, olho e observo à volta, como sempre.
Ela chega, de passos pequeninos e cansados. Talvez perto dos 80 anos. Olha-me e aproxima-se de mim, meio confusa, mas já a sorrir-me. Pergunta-me se está no sentido certo.
- É que sabe, menina, lá fora, na rua, é mais fácil. Aqui dentro é confuso. Há muitas linhas e muitas pessoas cheias de pressa.
Sorrio-lhe.
- Sim, está no sentido certo. Pode entrar comigo e sai já na estação seguinte.
Espera junto de mim, em silêncio. Mas continua com o sorriso de ternura que me abraça e me serena de toda a pressa que nos rodeia. O metro chega. Levanta-se, olha-me de novo a sorrir-me e chega-se mais a mim.
- A menina dá-me a mãozinha para eu entrar consigo? É que sabe, menina, as pernas já não me obedecem como antes.
Sorrio-lhe. Dou-lhe a mão e caminhamos as duas em direcção ao metro. Enquanto caminhamos, aperta-me tanto a mão. Tanto. Treme, mas aperta-a forte. Como se toda a segurança que ela precisa para aqueles passos pequeninos e cansados estivesse ali, na mão que aperta tanto. São passos pequeninos e cansados, mas eu não tenho pressa. Deixei de sentir toda a pressa que nos rodeia.
Entramos no metro. Sugiro que se sente. Não quer. O tempo de viagem é curto e é-lhe mais difícil sentar-se e ter de se levantar depois.
- É que sabe, menina, as pernas já não me obedecem como antes.
Não me larga a mão. Faz aqueles minutos de viagem junto de mim, a apertar-me a mão. Sempre sem a largar. E, enquanto a sua mão aperta a minha, eu sinto que está tudo certo.
Chegamos ao seu destino. Olha-me de novo a sorrir-me e ainda a apertar-me a mão.
- Obrigada, menina. Deus a abençoe. Que tenha sempre muito amor toda a vida.
Haverá coisa melhor para se desejar a alguém?
Sorrio-lhe. Enquanto ela sai, devagarinho, aperto-lhe, em resposta, a mão que treme e que ainda aperta tanto a minha. Olha-me de novo a sorrir-me e larga-me a mão apenas quando já está do outro lado.
- Obrigada eu. – Digo-lhe.
Segue o seu caminho de passos pequeninos e cansados. E eu sigo o meu caminho e sinto que foram aqueles passos pequeninos e cansados, aquele sorriso de ternura e aquela mão, que apertou tanto a minha, que me trouxeram o amor hoje.
Eu sigo o meu caminho e sei... Hoje vi Deus. Ele sorriu-me… e eu dei-lhe a mão.