De repente é urgente parar. E, de repente, parece que ficámos sem saber muito bem onde mora o sentido. Porque acreditámos, todos os dias, que o que fazia sentido era correr mais depressa do que o tempo. Era não ter tempo para parar. Não ter tempo para demorar.
De repente é urgente parar. Pode ser que, de repente, comece a fazer sentido. Parar e demorar. Parar e demorar num abraço mais forte. Parar e demorar num entrelaçar de mãos mais seguro. Parar e demorar num cruzar de olhares mais fundo. Parar e demorar num sorriso mais cúmplice. Parar e demorar num beijo mais terno. Parar e demorar nas pessoas que são nossas, nas pessoas de quem nós somos. Mais uma e outra vez.
Pode ser que, de repente, comece a fazer sentido. Parar e demorar no amor. Pode ser que, de repente, comece a fazer sentido a única coisa que nunca devia ter deixado de fazer sentido. A única coisa que nos faz viver de verdade. Pode ser que, de repente, comece a fazer sentido o amor. E pode ser que, de repente, além de fazer sentido, comece a ser sentido. O amor.
Agradecer. Agradecer sempre. Mesmo com dias maus. Mesmo na tempestade. Mesmo que tudo. Agradecer.
Agradecer aqueles abraços de coração. Agradecer aquelas mãos de amparo. Agradecer aqueles olhares de alma. Agradecer aqueles sorrisos de abraçar. Agradecer aqueles beijos de cura. Agradecer aqueles colos de refúgio. Agradecer aqueles risos de contagiar. Agradecer aquelas vozes de arrebatar. Agradecer aqueles silêncios de sentir. Agradecer aquelas cumplicidades de arrepiar. Agradecer aqueles brilhos do olhar. Agradecer aqueles momentos de magia. Agradecer aquelas pessoas de luz. Agradecer aqueles corações-casa. Agradecer aqueles gestos de inspirar. Agradecer tudo o que salva. Agradecer.
Conseguir ver que as razões para agradecer andam sempre por aí, em forma de amor, à vista do coração. E agradecer.
Que seja abraço onde podes sempre morar. Que seja abraço para onde podes sempre correr. E que te faça querer sempre esse lugar. Mas que não seja sufoco. Que te deixe sempre respirar. Que não seja posse, fazendo-te só de si. Mas que seja entrega, fazendo-te escolher seres para si. Que seja para ti também. E que saiba acolher e deixar existir as tuas pessoas. Que saiba que, sem elas, não és tu. E que, só por isso, já lhes sinta o valor.
Que seja mão que se dá como quem não desenlaça. Que seja mão que te segura para sempre. Mas que não seja prisão. Que te dê liberdade e que te deixe sempre voar. Que seja confiar. Confiar que, no fim, o caminho é sempre voltar. Que não seja pressão. Que seja respeitar e aceitar: escolhas, decisões, caminhos, vida. Mesmo quando não se concorda, mesmo quando custa, mesmo quando dói.
Que seja sorriso a resgatar-te sempre mais um sorriso. Que seja sorriso que te sossega o coração. Que não seja pressa. Que não queira tudo para já. Que seja calma, quando o coração pede calma. Mesmo que tenha urgência de sentir. Que saiba que tudo tem o seu tempo. Que seja lugar de paz. Mesmo quando o mundo estremece, mesmo quando a vida troca os planos, mesmo na tempestade. Que não seja dureza. Que seja sempre ternura.
Que seja olhar que te vê de verdade. Que seja olhar mais longe. E que faça com te deixes descobrir, devagarinho, por trás das barreiras que construíste. Que saiba sentir o que sentes. E o que te faz sentir. Bom ou menos bom. Mesmo no silêncio. Que não seja só orgulho. Que seja humildade. Que saiba reconhecer erros. Pedir desculpa. E agradecer também. Que seja sempre razão para agradeceres.
Que seja beijo que te tira os pés do chão. Que seja beijo que te cura. Mas que não queira mudar o que és. E o que tens. Só melhorar-te. Que seja abrigo para tudo o que és. E que seja abrigo para os teus medos, para os teus fantasmas, para as tuas dores e para as tuas cicatrizes. Que te acrescente. E que não te tire mais pedaços. Que seja cuidar sempre. Repito: sempre. Todos os dias. Mesmo nos dias maus. Que seja cura.
Que seja amor. Se é para ser, que seja amor. Nunca menos do que amor. Que é também liberdade. Porque só o amor te sabe libertar. Porque te salva. Sabes?
(A MJP desafiou-me a escrever sobre Liberdade. E eu aceitei o desafio, de braços abertos, sem saber (ou, se calhar, até já sabia) que ia acabar por ser, também, desafiada a percorrer cada pedaço do meu coração e a escrevê-lo. A ele e com ele. É assim. E só assim. Obrigada, MJP ❤️)
Saudade não é só ausência. Saudade é presença constante. É a presença constante de tudo o que teima em lembrar-te do que te falta.
São os olhos, os sorrisos, as vozes, os cheiros, as cores, as expressões, ao cruzar na rua, que teimam em mostrar-te pedacinhos de quem não está. São os buraquinhos do teu coração que teimam em não sarar. São as pessoas que teimam em tentar remendar-te esses buraquinhos ou em morar neles, como quem acredita poder voltar a habitar uma casa que não chegou a ser desabitada. É o teu coração que teima em pedir "só mais uma vez". São as músicas que teimam em falar-te do que te falta, às vezes com a força de quem te abraça, outras vezes com a força de quem te sufoca. São as memórias que teimam em assaltar-te os dias, as noites e os sonhos, com um toque e um sabor agridoce. É o tempo que corre sem parar e teima em fazer-te esquecer pormenores pelo caminho, fazendo-te sentir às vezes mais leve, outras vezes mais pesada. É tudo o que está tatuado, para sempre, na tua alma, no teu coração. Na tua vida. És tu. No mais íntimo de ti. É o amor que é amor sempre.
É tanto. É o tanto que, sendo ausência, se faz sempre (e ainda mais) presença.