Os teus olhos. Se houve margem que me resgatou contra todas as forças do mundo, de todos os mundos, foram os teus olhos. A margem mais funda que eu já conheci. E, no entanto, eu não tive medo. Naquela altura eu ainda não tinha medo, sabes? Eu sabia que, sempre que deixasse resgatar-me pela corrente do teu mar, tinha os teus braços a ancorar-me. Eu só não sabia que, ao ancorar-me, estava a afundar-me também. Num mar que afinal não era meu. Na margem que ficou com os meus pedaços desancorados quando eu remei para o lado de cá. Há margens assim. Resgatam-te tanto. E afundam-te tanto. São as únicas margens que sabem ancorar-te para sempre, na alma e na pele (e, quase sem saberes, no coração), a cor, o sabor, o som, o cheiro, o toque, do seu mar. Os teus olhos. Os teus olhos.
A nossa história tem cor de arco-íris, tem sabor de chocolate e de oreo, tem som de música, de palavras e também de silêncios, tem cheiro de côco e de morango, tem toque de abraços e de colo. A nossa história começou a escrever-se ainda antes de nós nos sabermos dentro dela. Começou a escrever-se com os autores de uma história de amor para sempre. Uma história onde o amor vai além da presença física e, continuando a desenhar-se nas meninas que ficam, se imortaliza. A nossa história tem páginas para ler, tem páginas para escrever. A nossa história tem-nos a nós. A nossa história tem duas irmãs que, além das diferenças que as distinguem, se fundem naquilo que as faz pertencer uma à outra. Naquilo que as faz pertencer-se, ser-se. No coração que lhes faz correr o mesmo sangue. No coração que as faz respirar pedacinhos uma da outra. No coração que lhes tatua, na alma e na pele, as histórias que contam tanto daquilo que são. E daquilo que se são. No coração que as faz olhar-se e gostar-se sem barreiras, sempre como se fosse a primeira vez. No coração que lhes ensina que há amores e amores. E que há amores, como este, que são para sempre. É isto, o infinito.
Hoje a nossa história sorri e dá os parabéns à mana mais velha.