que dure todos os mil segundos que cabem na eternidade.
Diz-se que foi algures esta noite. Tão longe, tão alto. Um cometa e uma estrela que se cruzaram. Num segundo, em mil segundos, cruzaram-se. E num segundo, em mil segundos, num olhar, amaram-se. Há olhos, há momentos, que nos roubam o coração para sempre. Num segundo, em mil segundos, num olhar, amaram-se. E num segundo, em mil segundos, num olhar, perderam o coração para sempre. É sempre assim com estes corpos celestes. Passam num fugaz relance da eternidade e, num instante, desaparecem. Num segundo, em mil segundos, cruzaram-se. E num segundo, em mil segundos, desapareceram um do outro. Deixaram tatuada a maior cicatriz que pode tatuar-se. A cicatriz de um coração roubado. A cicatriz de um coração longe de casa acorda tempestades. Está aqui, está lá fora, a tempestade gigante de chuva e de vento que me bate forte na janela, que grita bem forte, num sopro suplicante, ao cometa e à estrela, que encontrem os seus corações roubados de volta. Que encontrem o seu caminho de volta a casa. Que encontrem o caminho de volta um ao outro. Que voltem a amar-se, num segundo, em mil segundos, que dure todos os mil segundos que cabem na eternidade.
Façam-lhe a vontade, queridos cometa e estrela. Oiçam a tempestade, oiçam o quanto ela vos grita. Oiçam-na, que ela bate-me forte na janela e não me deixa dormir. Tal e qual menina pequenina que se abriga e se esconde da confusão que mora lá fora. Oiçam-na, façam-lhe a vontade, para ela deixar de gritar, para ela sossegar e adormecer. Oiçam-na, sim? Voltem a amar-se, num segundo, em mil segundos, que dure todos os mil segundos que cabem na eternidade. E boa noite, de sonhos bonitos e de corações abraçados.